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  • Luigi Gambardella*

5G no Brasil: uma nova rede a serviço de todos

Atualizado: 9 de out. de 2020


O Brasil sairá de sua longa e profunda crise econômica. Mas só um salto tecnológico e não as receitas convencionais de sempre poderá garantir sustentabilidade. Como muitos outros países no mundo a maior economia da América Latina terá de enfrentar os problemas de competitividade, crescimento econômico e geração de empregos. Hoje em dia, isso significa confrontar-se com os temas da inovação e da economia digital, que tornou-se o verdadeiro motor da economia moderna. A “bala de prata” do desenvolvimento econômico é a conectividade de banda larga. O Banco Mundial calcula que um aumento de 10% das conexões Internet de alta velocidade representa uma expansão de 1,3% do crescimento econômico e promove uma “democratização da inovação”.

Sem dúvida, os principais desafios são o das novas redes de telecomunicações e a criação de um ecossistema de novos serviços ligados à 5G.

Porque a 5G é tão importante para o Brasil? Não se trata só de os consumidores brasileiros terem a possibilidade de desfrutar, no seu próprio telefone celular, de uma velocidade 1.000 vezes maior comparada à 4G, ou de baixar um filme em poucos segundos. A verdadeira revolução, muito mais profunda, está na capacidade de utilizar, de maneira massiva, a “Internet das Coisas” (IoT – Internet of Things) que permite conectar bilhões de objetos e, mais importante ainda, viabiliza novos serviços ditos de “baixa latência” como, por exemplo, os carros sem motorista ou os serviços de realidade aumentada para a medicina. Esses serviços de baixa latência são fundamentais para a produção dentro dos novos padrões da “Indústria 4.0” – basta pensar nos robôs industriais cada vez mais presentes nas fábricas.

O atraso das redes brasileiras

Hoje, a infraestrutura de telecomunicações no Brasil é inadequada. As operadoras não investem de maneira suficiente, a concorrência é pouca, os preços são altos e muitas vezes a qualidade do serviço é medíocre. Tudo isso é mais do que sabido pelos brasileiros. Além disso, o Brasil tem um enorme problema de “fratura digital”: muitas áreas do país não estão cobertas, resultando num acesso praticamente impossível à Internet.

Olhando para o futuro, a situação ainda é pior. Em matéria de 5G, o Brasil ficou para trás e os operadores de telecomunicações que estão investindo na 4G – já com muito atraso –não demonstram nenhuma intenção de realizar agora novos investimentos na 5G, preferindo a ideia de fazer um simples upgrade da 4G. Mais grave ainda: essas operadoras farão tudo para bloquear a nova tecnologia e evitar que outros possam investir em seu lugar. Basta um só exemplo do atraso brasileiro: hoje, todos os clientes de telefonia móvel na China têm acesso à 4G. Não há razão nenhuma para que os brasileiros permaneçam no atraso.

Dividir atacado e varejo

O Brasil precisa da 5G e agora mesmo se não quiser ulteriormente perder competitividade no setor industrial e sobretudo nos campos da logística e dos sistemas de transporte. A 5G é uma infraestrutura de interesse nacional. O governo brasileiro deveria favorecer o nascimento de uma NewCo “5GBrasil”, junto com investidores privados (numa Parceria Público-Privada – PPP) cuja missão seria construir uma nova rede móvel de última geração 5G cobrindo o Brasil inteiro. A NewCo “5GBrasil” limitar-se-ia a operar somente no mercado do atacado, incluindo os serviços ativos de rede, sem competir com as outras operadoras do mercado residencial. Qual seria a vantagem? Uma rede única é mais eficiente com custos menores. Separando a rede propriamente dita dos serviços, ela favoreceria a concorrência com efeitos positivos para a redução dos preços, a melhoria da qualidade e

maiores opções para os consumidores. Hoje, o mercado do varejo brasileiro está nas mãos de somente 4 operadoras, cada uma com sua própria rede. Amanhã, com a rede única, vários outros varejistas poderiam entrar no jogo, aumentando a concorrência – um poderoso incentivo para prestar maior atenção ao desenvolvimento de novos serviços.

A rede única também eliminaria a “fratura digital”. Atualmente no Brasil existem 4 redes móveis, mais de uma em algumas áreas e nenhuma em outras. A vantagem da rede única seria também a de atrair novos investidores que apostam no longo prazo e não estão interessados em retornos de curto prazo como acontece hoje. As operadoras de telecomunicações e outros players poderiam se concentrar no mercado do varejo e nas plataformas tecnológicas para oferecer novos serviços. Os clientes da NewCo “5GBrasil” não seriam só as operadoras de telecomunicações mas também as emissoras de TV, a indústria verticalizada (automobilística, transportes, logística, indústria 4.0...) e as empresas de Internet. Todos teriam acesso à nova rede nas mesmas condições e sem discriminações. Os novos modelos de negócios, sustentados no acesso à fibra óptica generalizada e na partilha dos elementos ativos da rede, vão transformar o papel das empresas.

*Luigi Gambardella é Presidente EUBrasil, ex-Presidente Executivo da ETNO, European Telecommunications Network Operators’ Association e Alfredo Valladão é Presidente Advisory Board EUBrasil, Professor da Paris School of International Affairs (PSIA), Sciences Po Paris

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